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A realidade do COVID-19 no Brasil aos olhos de quem está na linha da frente

Neste último mês vi mais gente morrer do que poderia imaginar. Eu, colegas médicos, enfermagem, fisioterapeutas... Dia após dia se desdobrando para cuidar de vidas afetadas pela COVID-19. Infelizmente, acaba sendo o ponto final de muitas histórias. Provavelmente muito mais histórias que as dos números oficiais.

Faculdades de medicina, incluindo a USP, paradas. Grande parte dos residentes médicos do maior hospital da América Latina mobilizados para cuidar dos pacientes que chegam diariamente com o ar faltando. Parte deles vai pra UTI, onde passam dias com tubos em suas gargantas e, que mesmo dando o melhor cuidado, vão pouco a pouco definhando até o corpo não resistir. Isso sem companhia de família ou mais ninguém senão nós da saúde. Podia ser seu pai, sua avó, sua tia. Podia ser você.

Saí de casa para não oferecer risco a quem amo. Vivendo basicamente para se preparar para o próximo plantão. Raspei de novo o cabelo. Ter o rosto marcado por equipamentos de proteção. Levar bronca da enfermagem (corretamente) por um descuido na hora de ver um paciente, podendo expor a mim e a outros ao risco de se contaminar . O condicionamento físico indo pro ralo. Alimentação não sendo das melhores. Ter a residência médica completamente impactada, afetando o quanto posso aprender. Sem sair. Sem ver quem gosto. Eu e milhares de outros profissionais da saúde nos sacrificando para aliviar sofrimentos e tentar salvar vidas.

Isso para sair do hospital e ver gente passeando como se nada acontecesse. Ver notícia do pessoal indo no parque, na praia, comprando bolsa, chapeu ou qualquer outra coisa. Não é gente que se vê na situação de precisar sair senão corre o risco de passar fome. É gente egoísta. Gente cujo bem estar é mais importante que a vida do próximo. Gente que esquece que estamos numa crise que tende a piorar. Vai chegar uma hora que o ar vai faltar, mas as vagas e ventiladores também. Isso pois não se consegue pensar minimamente no coletivo. Eu espero estar lá para ajudar quem precisar, mas se continuar assim, não haverá esforço capaz de contornar o assombroso futuro que se aproxima.

Eu amo minha profissão. É um enorme prazer poder tentar ajudar aqueles que sofrem. Mas sair do plantão e ver tanto descaso é muito desanimador... Por favor, dê condições para que nós e o mundo enfrentemos essa guerra. Fique em casa. Compartilhe essa ideia.

Tenho um Instagram, acredito que seja mais fácil para manter uma conexão: https://www.instagram.com/paulotoazzapv/?hl=pt-br ou @paulotoazzapv.

Um grande abraço, de coração


Autor: Drº Paulo Vinícios



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