É sempre um enorme orgulho saber que os nossos sócios, membros, atores, amigos escolhem o teatro a nível de carreira profissional, pois é sinal que a sua passagem no Visiunarte e pela representação os marcou de tal maneira que aceitam mesmo levar o desafio a um patamar mais elevado. É o caso da nossa atriz e colega Beatriz Pina, que ingressou agora no Ensino Superior. Vamos ver o que ela tem para nos contar nesta entrevista:
1- O teatro sempre foi uma paixão tua?
Antes de iniciar esta entrevista gostaria imenso de agradecer ao Visiunarte (o meu grupo ehehe) por este convite incrível, por todas as oportunidades dadas até agora, (não só a mim, como a todos) e por conseguirem, sempre, mas mesmo sempre deixarem-nos a todos – membros do grupo e público – com um sorriso de “orelha a orelha”, devido ao amor que é posto em tudo.
Honestamente, para mim, o teatro sempre foi e espero que seja sempre uma paixão. Teatro é crescimento, é expressão, é libertação (tanto do meu corpo como da minha mente), é uma forma de eu me dar a conhecer a mim própria (a minha arte) e aos outros e é a expressão da vida e dos meus/teus/nossos sentimentos. Basicamente Teatro é vida.
Para mim, o Teatro sempre surgiu de uma forma muito natural, ao início fazia por gosto (nem sequer pensava na ideia de fazer vida ou ter uma profissão relacionada com esta arte), mas, com o passar do tempo acabou por ser o meu refúgio, lá está o meu tão famoso “porto seguro”.
Passamos a nossa vida toda a interpretar personagens que acabamos por nos esquecer um pouco de quem somos realmente. Pelo menos quando eu estou em cima de um palco estou feliz e sei quem sou. Cada personagem que é interpretada por mim ou por qualquer outro ator ou atriz vai ser refletida numa das pessoas presentes no público, e é por isso que o Teatro se torna uma paixão para mim. Naquele momento em que eu estou a representar eu fiz, pelo menos, uma pessoa do público, se identificar comigo, o que é surreal.
E, se eu puder fazer alguém feliz (nem que seja só uma pessoa), enquanto represento, é obvio que vou continuar a fazer algo que me motiva e que se acaba por tornar uma paixão porque é algo que me faz bem a mim e aos outros.
2- Como conheceste o Visiunarte?
Quem me conhece sabe perfeitamente que um dos meus filmes de eleição é o “Mamma Mia!”, sou completamente apaixonada pela história e pelo elenco. E ao saber que um grupo, que sendo muito sincera, que na altura eu não conhecia de lado nenhum, iria atuar na minha cidade – Viseu –, eu não poderia passar sem ver.
Fiquei encantada, desde a forma como tudo estava tão bem pensado e ao pormenor, e depois ainda saber que eram os membros deste grupo que criavam as próprias roupas e cenários, não podia mesmo passar ao lado sem marcar
presença neste e noutros espetáculos que foram aparecendo por aí em diante, até decidir entrar na altura em que este grupo estava a trabalhar na peça: “A Pequena Sereia”.
3- Achas que o que aprendeste no Visiunarte foi entusiasmante?
Tudo o que aprendemos vai ter de certo uma interferência ou positiva ou negativa nas nossas vidas. No meu caso, e no que toca ao Visiunarte, aquilo que aprendi foi sem sombra de dúvida entusiasmante e gratificante.
Para além de ter criado novos laços com novas pessoas, acabei por desenvolver imenso as minhas capacidades técnicas e artísticas. Cada encenador é um encenador, cada colega é um colega, “cada caso é um caso”. Aprendi e continuo a aprender bastante com o projeto e com todos. Sou muito agradecida por ter conhecido todos os membros deste projeto e por poder contracenar e aprender com todos eles.
4- Consideras que o Visiunarte teve influência no facto de estares a estudar teatro na universidade?
Como eu já referi na pergunta anterior, tudo o que fazemos, os locais onde estamos inseridos, vão de certo modo contribuir para algo na nossa vida.
Teatro, cinema e televisão, sempre foram o meu grande sonho, é algo que quero fazer para a minha vida inteira.
Fazer Teatro ensina-nos valores que deveriam, a meu ver, claro, ser básicos na vida de alguém. Aprendemos a ser mais reflexivos, mais humanos, mais confiantes, mais verdadeiros, e ensina-nos sobretudo a mudar a nossa perceção sobre o mundo que nos rodeia.
Claro que aquilo que fiz neste grupo, aquilo que aprendi, não se compara de todo ao ensino superior, universitário, e ainda bem, ainda bem mesmo que assim é. Mas foi no Visiunarte que desenvolvi competências, que criei novas bases, novas perceções e fui, sou, e serei sempre muito feliz por pertencer aqui. (Grata!!)
5- Lembraste do primeiro sentimento que sentiste na tua primeira peça ?
É engraçada esta pergunta, pois a minha primeira peça já foi “há séculos” e a minha primeira peça com o Visiunarte, foi, salvo erro, em 2018?
Não me lembro muito do que senti, mas lembro-me perfeitamente que era com a existência da criatividade, que de alguma maneira se acabava por relacionar com a possibilidade de sentir a vida como real e como digna de ser vivida, ao explorar
sentimentos, ideias, desejos e representações de alguém que não éramos de todo nós ou eu, que se aprendia a articular também todas estas perceções como uma forma de nos conhecermos nós próprios, aos outros e até mesmo ao que está à nossa volta.
6 - Que barreiras o Visiunarte te ajudou a ultrapassar?
O Teatro é o essencial instrumento para uma transformação pessoal e até mesmo social do ser humano, e neste grupo não existe a exceção.
Neste grupo aprendi aquilo que se chama, acho eu, de ter um raciocínio rápido em cena, ou seja, quando acontecem aquelas situações completamente inesperadas em cima de um palco, há que saber dar a voltar, não ter resolver, mas sim improvisar. É complicado ao início, é verdade, mas é algo que a medida que o tempo passa, vamos aprendendo a desenvolver.
As danças não são o meu forte, juro que agora já estou um bocadinho melhor, mas continua a ser algo que não aprendo, nem apanho, no segundo que estou a aprender a coreografia como tantos outros. Mas foi com tanto esforço e dedicação, por parte de todos, para nos ensinar a todos que os objetivos do grupo, porque somos todos um – outra coisa que também aprendi aqui – foram levados a bom porto.
7 - Algum momento pensaste em desistir do teu sonho, teatro?
Não, claro que não! “Desistir” não é uma palavra que esteja no meu dicionário, nunca esteve, nem nunca vai estar, mas isto para qualquer coisa. Se caíres, olha temos pena, caíste. Vais-te levantar e tenho a certeza que farás melhor, e se não fizeres, continua até conseguires.
Agora, em relação à universidade, sim é algo diferente, claro. É algo que me faz ir com nódoas negras, todos os fins de semana para casa (ahahah), mas é algo que me deixa mesmo muito mas mesmo muito feliz. É um trabalho árduo e contínuo, como em tudo na vida, mas se é o meu sonho, por mais que custe não vou desistir, ponto final.
8 - O que foi fundamental nesta tua escolha?
O meu sonho. É algo que comanda a nossa vida, é algo que nos leva à realização do nosso ser. É uma vontade intrínseca que promove a curiosidade. É a vontade de ir mais além. É a ambição.
É o sonho que nos faz avançar, a nós e ao mundo, neste caso, às pessoas que dele fazem parte. Toda a componente artística é fruto de um sonho e o Teatro e as artes são o palco por excelência da sua concretização.
9 - Achas que te surpreendeste a ti mesma no Visiunarte ou em parte já estavas a espera da prestação que tens em palco?
O teatro é o grande palco de todos os sonhos e esperanças que reúne todas as concretizações da mente humana. Todos nós acabamos por ser atores numa busca pela felicidade. Alegramo-nos com as nossas vitórias, choramos com as nossas derrotas, mas no fundo, mesmo muito lá no fundo só queremos alcançar os aplausos da plateia.
Acabamos sempre, mas mesmo sempre por nos surpreender, e não, não estava a espera da prestação que tive em palco, mas lá está, é bom não estar à espera de nada, por isso é que se torna um crescimento.
10 - O que é que gostas mais de fazer numa peça musical?
Os musicais são a forma mais bonita, para mim, de fazer Teatro. Desde os mais novos aos mais crescidos, é o único género que dá lugar a todos na plateia. É uma forma de expressão, pois aqui que se contam as histórias mais bonitas da Disney, por exemplo, e é aqui que todos os diálogos ganham musicalidade.
Em relação ao que é que eu gosto mais de fazer, sinceramente é tudo. Posso cantar, posso dançar, posso representar de uma forma engraçada. Mete a sua piada aquilo que se pode fazer de uma forma lúdica num musical. É uma produção gigante com resultados finais fenomenais que nos deixa a todos a querer “comer e chorar por mais”.
11- Se te dessem a escolher entre Visiunarte ou outro grupo qualquer escolherias outro ou repetias a experiência?
Não, claro que não escolheria. Repetiria, sim, a experiência.
Primeiro de tudo, sei que esta experiência correu muito bem, teve alguns altos e baixos, mas correu, e muito sinceramente não sei como é que outras iriam correr ou se até mesmo iriam correr tão bem como esta correu. Nunca saberemos como é que seria se tivéssemos feito a escolha a) ou a escolha b), porque a vida é mesmo assim, é feita de escolhas, sonhos e objetivos. Tudo o que escolhemos tem um propósito, pelo menos eu
penso assim, e na altura eu escolhi o Visiunarte para ser o meu grupo, acredito mesmo que não estava assim “tão louca de todo”.
A arte, neste caso, o teatro, são capazes de transformar as nossas vidas e quer seja neste grupo ou noutro a minha filosofia não irá mudar. Fico muito contente e orgulhosa até das minhas escolhas e não trocaria o Visiunarte por nada, foi uma aprendizagem e o início de um ciclo que espero que dure por muito mais tempo.
Para conhecerem mais sobre a Beatriz podem visitar o seu blog pessoal : https://biiatrizpiina.wixsite.com/biiatriizpiina
Entrevistada: Beatriz Pina
Comments