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Pequenos gestos podem transformar-se em grandes ações

Atualizado: 29 de set. de 2022

Muita tinta se tem gasto em torno de algo que deveria ser normal. Muito se falou, discutiu, se escreveu sobre a temática.

Como sabem, na Gala do Visiunarte eu apresentei-me com saltos altos. E foi da mesma forma que eu fui para a discoteca, sem qualquer problema, sem qualquer desconforto, pelo menos da minha parte. Nesse mesmo espaço, onde eu estava com os meus amigos, fui uma vez mais vitima de um abuso psicológico. Apesar de eu já não ligar para olhares e comentários, mesmo quando eles são abusivos, deparei-me com os meus amigos a defenderem-me de um grupo de energúmenos que vão para um espaço público olhar para os outros, comentar, gozar, em vez de se divertirem sem estarem a intrometer-se na liberdade do outro.

Este assunto foi motivo de incómodo para os meus amigos, foi motivo de um texto aqui no blogue. Falei sobre ele também num direto que fiz no meu instagram.

A minha liberdade de expressão não tem de ser aceite pelos outros, mas tem obrigatoriamente de ser respeitada pelos demais. Todos temos a liberdade de não gostar e comentar, eu também o faço. Mas nenhum direito têm de juntar pessoas para apontarem dedos, para rirem, para minimizar o outro. A minimização da outra pessoa só faz de nós fracos, só nos torna menores que o outro. A minimização é uma forma fácil de entrar em grupos, ser bajulado pelos demais, ser admirado entre o grupo. A minimização do outro é bullying também.

Tenho um desejo muito profundo e esse desejo é mesmo a mudança de mentalidades. Não preciso de mudar mentalidades em massa, nem é isso que anseio. Mas gostava que as pessoas começassem a normalizar certas coisas que são tão pequenas e que não interferem com o espaço de ninguém. E o que mais me custa é que essas mesmas pessoas que vieram apontar-me o dedo, eram da minha idade. E com isto, muitas vezes sentimos que esta geração está perdida, que não estamos a fazer a nossa parte.

Retomámos os ensaios de teatro há cerca de oito dias e no passado sábado foi quando eu voltei também aos ensaios. Depois de um momento de exercícios e integrações, fui mandado embora. Calma, não fui expulso! Simplesmente pediram-me para ir para o andar de cima. Pensando eu que era um simples exercício, lá fui com a Inês e esperei. Tínhamos estado a fazer um exercício de improvisação e eu assumi que era algo do género. Fomos chamados e quando cheguei ao andar de baixo, foram-me dirigidas palavras por todos os colegas que estavam no ensaio. Descreviam-me com uma palavra. Mas aquilo que mais importante se tornou para mim, foi ver que todos estavam de saltos altos. Rapazes e raparigas. Todos.

Gostava que quem lesse este texto, percebesse o quão significante isto é. Sim, foi uma homenagem que me fizeram, mas foi também importante para que percebam que não precisam de ser A ou B para usarem aquilo que gostam. Tornou-se um gesto importante para que os tabus sejam destruídos. Não se tratou ali só de me darem alento e força para continuar a minha verdade, mas sim também que estas pequenas coisas são possíveis a todos. É bom que se sintam livres e com força de o serem e não precisarem de estar diante a morte para perceberem que ninguém nos pode impedir de sermos quem no nosso interior somos.

Quero muito agradecer a cada um deles por cada palavra que me dirigiram. Agradecer-lhes pela coragem, agradecer-lhes pela aceitação, pelo respeito, pela liberdade de cada um deles. Sei que quem produziu tudo isto, está sempre a meu lado, mesmo quando não me entende. A ela, agradecer por todo o trabalho que tem feito, por nos permitir sermos livres na nossa forma de nos expressarmos.

Nunca se esqueçam de nunca se vestirem de preconceitos, de serem fiéis e acreditarem em vocês mesmo quando tudo parece fazer-nos duvidar. Nunca deixem que a vossa alma, a vossa verdadeira essência seja apagada por outros. Vivam, vivam de forma intensa, aproveitem cada segundo, cada dia da melhor maneira possível. Estou de coração cheio graças a cada um de vós.



Autor: Ismael Sousa



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