Quem faz parte da nossa comunidade e nos acompanha ao longo destes quase 10 anos, certamente conhece o nosso ator Miguel Costa, até porque se vê muito bem ao longe dada a sua altura peculiar, talvez por isso, e pelo seu enorme talento, claro, tenhamos facilidade em lhe dar papéis como o Sam do elenco Mamma Mia, o Príncipe Eric, do musical Pequena Sereia, o fantástico e fabuloso Génio da Lâmpada, e agora, se é que já o podemos desvendar, o famoso Príncipe Encantado- O Príncipe Henry- musical Cinderela. Claro que também já nos pôde presenciar com outras personagens caricatas como na peça "Palavras do Fingimento" com a personagem louca do escritor.
Para além de ser ator, o Miguel foi também o nosso tesoureiro e "faz tudo", durante um tempo de alguma instabilidade emocional da nossa companhia teatral, o que o levou a necessitar de uma pausa bem necessitada para se voltar a encontrar e focar em outras coisas importantes e fundamentais da sua vida. Apesar de não parecer, toda a organização que não se vê, por vezes consome-nos bem mais do que os próprios textos e apresentações e por essa razão, agora iremos contar com a sua prestação novamente como ator o que nos deixa uma alegria imensa.
Foi com este intuito que decidimos fazer esta entrevista, após a sua pausa de tanto tempo e já com algum distanciamento, para fazermos uma pequena reflexão de tudo o que aconteceu entre a sua saída e o seu regresso.
1- O que te levou a fazer teatro da primeira vez?
Ora bem, sempre tive um pequeno gosto pelo teatro desde que me lembro de ser gente. Quando era pequeno, os meus pais incentivavam diretamente a participação em atividades extracurriculares, para eu perceber o que gostava de fazer. E fiz muita coisa, algumas com algum tipo de perícia, se lhe é que posso chamar isso (Piano, Guitarra, Teatro), outros nem tanto (Basquetebol, Natação). Embora tivesse feito algumas peças no grupo de Teatro do Colégio da Via Sacra, o verdadeiro gosto pelo teatro desenvolveu-se a assistir a algumas peças do grupo de teatro da Escola Secundária Viriato. Uma realidade que eu nunca pensei fazer, mas que adorava assistir. Foi um pouco mais tarde que me cruzei com o fantástico trabalho do Grupo Visiunarte Ateliês.
2- Sempre quiseste fazer teatro ou foi algo que apareceu do nada?
Na verdade, nunca me tinha imaginado a fazê-lo da maneira como o faço neste momento. Durante uma viagem a Londres, que fiz com alguns elementos do Visiunarte na altura, incluindo a maravilhosa Maggie Ribeiro, tivemos a fantástica ideia de assistir ao musical Mamma Mia, da Broadway de Londres. Eu, que sempre tive complexos com os movimentos motores mais simples – nunca me senti à vontade com algo tão simples como caminhar – vi-me contagiado pelo sentimento transmitido pelos atores britânicos, e só me recordo que no final me apetecia levantar do lugar e dançar com os atores e com o público fantástico. Foi nessa altura que fiz a promessa à Maggie de que se ela se atrevesse a levar o musical Mamma Mia a cena com o Visiunarte, poderia contar com a minha participação. Duas semanas depois, já de volta a Viseu, estávamos num momento de descontração quando ela me disse “Adivinha quem vai entrar para o Visiunarte este ano?”. Arrependi-me logo da promessa (brincadeira).
3- Como foi o primeiro ensaio no Visiunarte e o que sentiste?
Só me lembro de me sentir super N-E-R-V-O-S-O. Tanto que neste momento já nem me recordo sequer do lugar do primeiro ensaio, porque na altura estávamos entre “lugares” – a junta de freguesia de Viseu e a Soima. Só me lembro de estar em pânico até para a primeira roda de apresentações, momentos antes de me apresentar aos colegas.
4- Ainda te lembras de todos os colegas com quem já partilhaste palco? Qual o momento mais caricato e qual o momento mais aflitivo em palco?
Recordo-me de todos os colegas sem exceção. Todos me marcaram de determinada maneira e guardo um lugar muito especial para todos.
Momentos caricatos..? Sem dúvida nenhuma que um dos mais engraçados e que irei sempre recordar com muito carinho foi a fala da “vida alheira”, que passaria discreta não houvesse um cruzamento de olhares entre mim e a Maggie, do género “nós ouvimos o mesmo, certo?” ou a fala da “Lombra em cima da sua”. O momento mais aflitivo que alguma vez senti em palco – diga-se de passagem, houve alguns – foi quando tivemos um problema na apresentação do Mamma Mia em termos de som. As músicas de um momento para o outro pararam, e o comportamento do grupo foi fantástico, perfeito. Apoiamo-nos de uma maneira magnifica em palco, e, especialmente, fora dele.
5- O que gostas mais de fazer no Visiunarte?
Sem dúvida alguma passar aquelas horas fantásticas por semana com aquelas pessoas maravilhosas. Na verdade, passar algum tempo a interpretar uma personagem é um escape muito bom da realidade, especialmente ao lado dos nossos. Não posso também deixar passar em claro o sentimento indescritível que é ver o culminar de uma peça, aquele aplauso que justifica todo o esforço e trabalho do grupo.
6- O que te levou a fazer uma pausa no Visiunarte (opinião sincera)?
Esta resposta pode parecer muito estranha, mas alguma vez estiveram tão envolvidos em algo que perdem um bocado de noção da vossa realidade, daquilo que vos molda e do que são capazes de fazer fora dessa realidade? Foi isso que me aconteceu. Levamos alguns problemas menores e de fácil resolução para casa e tudo tem um peso extra. Precisei de me afastar por mim, para provar a mim próprio que ainda tinha algo a dizer sobre a minha própria vida sem qualquer tipo de preocupações externas. Tive tempo para me focar na vida profissional e pessoal e atingir determinados objetivos. Claro que com o peso de não poder partilhar momentos tão especiais com pessoas tão fantásticas.
7- Achas que essa pausa te fez ponderar todos os pós e contras, daí o teu regresso?
Posso dizer que me arrependi muito cedo de ter saído. Sentia que faltava muita coisa no meu dia a dia. Essa pausa foi importante para conseguir focar nos objetivos que tinha, mas teve um peso ainda maior na minha vida. Só tenho que agradecer o facto de me terem aceite de volta de braços abertos. Voltar e ser recebido da maneira como fui, quase que como se não tivesse nunca saído, é um sentimento de amor fantástico.
8- Qual foi a maior diferença que sentiste em ti e nos outros agora que estás de volta?
Absolutamente nenhuma diferença da parte dos outros, tirando o facto de a Morais estar a ficar um bocadinho mais cheiinha, mas acho que é natural quando se apanha aquele tipo de bicho (a Morais, nossa vice de associação e de primeiras de coração, está grávida). Da minha parte, sinto-me mais calmo. Também cheiinho, mas eu apanhei um bicho completamente diferente, prometo.
9- Como foi para ti veres as peças de fora e não participares quando fizeste a tua pausa?
Sempre disse que a pior parte de fazer teatro no Visiunarte é o facto de não poder estar do outro lado para ver os resultados finais. ADOREI ver as peças, só perdi uma se não me engano, por questões profissionais, mas garantidamente estarei durante muito tempo num dos lados: se não em palco, estarei de certeza na plateia. Ao mesmo tempo, ver as peças despertou uma saudade gigantesca que ajudou a dar o empurrão em querer regressar.
10- O que sentes por agora teres voltado?
Resposta curta e correta: de volta a casa.
11- Que expectativas tens para com o ano que se segue?
Quando voltei, coloquei na minha cabeça que não iria entrar com qualquer tipo de expectativa. Passadas duas semanas, as expectativas estão em alta. Este ano vai voltar a ser mais um ano grande para nós! Os espectadores que se preparem!
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