Que a Alma se apague, mas nunca o Ator
- Visiunarte Ateliês
- 28 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 29 de abr.
Olá a todos, sou a Mafalda, tenho 15 anos, ando no 10º ano na Escola Secundária Alves Martins no Curso Ciências e Tecnologia (científicos resumidamente). Entrei na Visiunarte há 4 anos...
"Mafalda, tens a certeza que queres ir para o teatro?"
"Tenho mãe."
Depois de uns bons anos ainda me dizem - "Quem diria que fosses fazer teatro". Entendo-os, eu não era o tipo de criança que gostava de chamar às atenções. Não sei o que se passou na minha cabeça quando voltei para casa depois de ver uma peça da Visiunarte e ter pedido à minha mãe para entrar, é uma daquelas coisas que vocês apenas sabem, entendem? Experimentei, gostei, fiquei. De momento, sou uma apaixonada pelo teatro. Ele mudou-me por completo e sou quem sou por causa dele.

Olá, chamo-me Rodrigo, tenho 17 anos e grandes sonhos para alcançar. Vou contar um pouco da minha história e do meu progresso em relação ao meu sonho de ser ator. Tudo começou quando de repente uma chama se acendeu cá dentro. Não sei bem explicar como aconteceu, é algo que simplesmente se sente. Depois disso suceder, fui ver uma peça da Visiunarte e apaixonei-me logo pelo que vi, foi incrível! Decidi por isso começar a fazer teatro e já lá vão 5 anos desde que comecei.
A pergunta mais comum para um miúdo do secundário é: "O que queres ser?" A resposta mais comum para um miúdo do secundário é: "Ainda não sei."
Mas será que não sabemos mesmo? Talvez sim, talvez não... estamos constantemente a mudar de opinião e de gostos.
"Medicina?" "Não!" "Algum tipo de engenharia?" "Credo!" "Relacionado com a química?" "Não me odeio assim tanto!"
A verdade é que estou em científicos, mas a probabilidade de eu vir a seguir, sei lá? História? É muito mais elevada do que algo relacionado com físico-química. Não digo totalmente que estou no curso errado, mas ver substâncias químicas todos os dias para o resto da minha vida não é algo que me motive muito.
"E o teatro?" "Mas o teatro não sustenta ninguém!"
No início era figurante em musicais, depois obtive o meu primeiro papel principal em "O Demónio e a senhora Prym", uma peça de teatro baseada na obra do autor Paulo Coelho. Fiz enumeras peças, assisti a muitas outras, tudo na expectativa de aprender e ser melhor. Mas nem tudo foi bom, passei por fases muito difíceis como ator, passei por lutas contra mim próprio (a minha mente), não me importava o quão perfeita pudesse parecer a minha prestação em palco, e eu fizesse a personagem, eu sentia e sinto ainda muitas vezes, que posso sempre fazer mais e ir mais longe, sinto que podia ter feito melhor, mesmo sabendo que dei o meu melhor e isso acaba por me pressionar, eu acabo por me pressionar. Mas é porque realmente em cada peça e em cada repetição podemos fazer mais e melhor.
Eu sempre tive muito apoio, sempre tive pessoas que acreditavam em mim, a Maggie, o Miguel, o Isma, a Carol Morais, a minha família, a Mafalda, o Afonso e o Matias. Enquanto toda a gente via a minha evolução eu era incapaz de a ver, sentia que estava a ficar para trás e duvidava das minhas próprias capacidades, depois havia sempre muita gente a dizer:
“Não vais conseguir”, “o teatro não te abre portas”, “não vais ser ninguém”.
Mas mesmo assim eu continuei a lutar sem saber se ia conseguir ou não, eu podia estar perdido, podia duvidar, mas ainda assim eu não conseguia desistir, não consigo desistir de nada porque eu realmente sei o que quero, a minha força de vontade é enorme e ninguém me consegue tirar isso.
Uma voz na minha cabeça diz que consigo.
Mas será que consigo mesmo? Será que não me vou perder? Existem tantas possibilidades. O mundo era tão mais fácil se todas as profissões valessem o mesmo e, nós, os miúdos do teatro, não tivéssemos sempre a ouvir que nunca vamos conseguir. O teatro move-me, faz parte de mim, está-me na alma. Imaginem fazer teatro para o resto da vossa vida, que sonho.
QUE SONHO!

Atualmente sinto-me capacitado e finalmente consigo ver o meu progresso, tudo aconteceu numa peça chamada “Estagiários” do projeto KCena, no Teatro Viriato. Tive o maior dos privilégios, trabalhar com a grande atriz Cláudia Lucas Chéu e conhecer o Albano Jerónimo, e eles fizeram-me perceber que a Maggie e os outros estavam certos, eu sou bom ator. A Cláudia ensinou-me muitas coisas, mas eu já tinha muitas outras coisas e nem me tinha apercebido, fui e sou considerado o seu melhor ator, responsabilizou-me para liderar a peça e puxar pelos meus colegas e foi isso que eu fiz. Sinto-me mais seguro em relação ao que quero, pois a Cláudia disse-me que eu tenho potencial de me tornar um ator e que só me faltam algumas ferramentas, disse que me iria ajudar com a Universidade e castings, que eu tinha um futuro na área que tanto amo... tal como a Maggie, o Miguel e o Isma já me tinham dito.
Ao longo do meu processo como ator conheci pessoas maravilhosas, mentores incríveis, e encontrei-me, eu sei aquilo que quero e nunca vou parar de lutar pelo meu futuro, só vou parar quando o meu corpo não se mexer mais, até lá vou lutar!
Quero tanto fazer teatro, mas já viram a quantidade de obstáculos que há? Estamos sempre a mudar de profissões, amanhã posso acordar e querer ser astronauta. Mas em relação ao teatro é diferente, é como se estivesse a borbulhar dentro de mim. E se eu não for bom o suficiente? Uma pessoa nunca sabe.
Ser ator é algo difícil, mas não impossível! A todos os apaixonados pelas artes eu quero-vos pedir que nunca desistam! Eu sei que Portugal é um país pobre em relação às artes e muitos de vocês têm medo de agir, pois acham que não tem futuro. Mas eu prefiro arriscar e sentir que tentei, sentir-me relativamente realizado do que não tentar e me arrepender para o resto da vida.
“Desistir é a única certeza de que nunca vai dar certo”.
Autores: Mafalda Alexandre & Rodrigo Silva
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